À vontade dos ventos
Tenho as costas curvadas pelo cansaço da vida. Quantos dias já declinaram sobre mim? Quantas vezes o sol no horizonte inflamou o céu? Por que a inquietude ainda me invade a alma como sempre invade a vida? Quantas noites virão me trazer solidão se é que só tenho a lua e as estrelas como companhia? Como fui insensível e nem percebi que há sempre calmaria após a tempestade?
Sem delonga, abandonei o leme e me deixei derivar aos caprichos das correntes, porém, a angústia ainda me ampara e muitas vezes, volto a procurar certos vestígios do passado, resíduos leves e esquecidos que se foram sem presente e que morreram sem futuro.
Mesmo assim, ainda me assombram os fantasmas invisíveis e as sombras silenciosas. Como pude ao lado deles passar sem os enxergar a vida inteira?
Eu teria mudado meu destino se tivesse seguido o canal que balizavam aquelas boias, mas os filhos do destino me confundiram e, indiferentemente, continuei a navegar à vontade dos ventos...
Sustentei-me sobre as maromas tentando orientar o velame e enganei-me tantas vezes sem perceber que fiquei encalhada, mas finalmente, percebi e consegui chegar a um porto seguro onde lancei minha pesada âncora, quem sabe ainda por um tempo... Indefinido.