Uma equipe americana acaba de resolver um dos maiores mistérios do tempo amazônico: a floresta aciona as chuvas dois meses antes da monção.

     Por incrível que pareça, é verdade. Na Amazônia, as árvores são capazes de desencadear a chuva. O clima amazônico é muito mais complexo do que uma simples alternância entre estações úmidas e secas. De dezembro a maio é a estação chuvosa, e de maio a setembro, a estação seca. Mas entre setembro e dezembro há um tempo chuvoso em que as condições do tempo não se prestam a isso. Então, como as chuvas fazem para debutar dois meses antes que o sistema dos ventos possa trazer água do mar para a floresta? Uma equipe de pesquisadores americanos acaba de resolver um dos mistérios do tempo Amazônico.

     A partir de setembro, as chuvas mais modestas do que as chuvas de inverno começam a cair na Amazônia. Os cientistas já tinham notado a coincidência desse período úmido com o crescimento das folhas das árvores. Eles suspeitavam que essas chuvas estavam relacionadas ao aumento da evapotranspiração porque as plantas liberam umidade no momento da fotossíntese. Uma climatologista da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), Rong Fu, foi capaz de confirmar essa hipótese em um artigo na PNAS, uma importante revista científica dos Estados Unidos.

     Para chegar a essa conclusão, a pesquisadora utilizou imagens de satélite da NASA dedicadas ao estudo da atmosfera da terra. Resultado: ela encontrou deutério (um isótopo natural) em grande quantidade. No entanto, a evaporação dos oceanos não contém tanto... Mas como a natureza está definitivamente fazendo as coisas direito, esses picos de deutério são observados no final da estação seca quando, precisamente, a vegetação precisa de água para sobreviver. Em outras palavras, nesse período são as árvores que provocam as chuvas e não o tempo.

     E esta descoberta coloca o papel da vegetação no ciclo da água no coração do debate. Ao contrário do que se pensava a vegetação não seria um mero receptáculo de precipitação. Por isso, parece que, mais amplamente, as plantas poderiam influenciar o clima, não só armazenando o carbono. Elas seriam capazes de provocar as chuvas que elas precisam para sobreviver.      Assim, o desmatamento poderia ter ainda mais impacto do que pensávamos sobre o ecossistema global. Resta saber se esse fenômeno é peculiar à Amazônia ou se é idêntico ao da floresta da bacia do Congo na África.

     Aqui está à prova caso ainda seja necessário, que preservar a vegetação para manter um ecossistema estável é o maior desafio da nossa sociedade.