DESABAFO CINQUENTENÁRIO
Chega um Dia em que as palavras ficam suspensas no ar, que a gente fica apática e sem mais questionar: - O que teria sido se...? Chegou o dia que compreendi que devo me habituar com um jeito sem jeito de ser: elogiada, bajulada, conquistada, amada, solicitada e tantas formas inter-relativas ao particípio que não vale nem a pena mencionar.
Tempos obscuros, sem jeito, sem festa, sem brindes, sem flores, mas com um jeito explícito que não esconde grandes surpresas e muito menos novos amores. Chega um tempo em que a gente se obriga a compreender a Teoria da Relatividade, da Objetividade, e é claro, da Contabilidade.
Tudo tem seu preço, tudo envolve perdas, mas que importam as perdas se a esta altura já sei dominar a arte de ganhar e perder sem muitas dificuldades; se já sou uma mulher equilibrada e forte; se já sei esconder minhas dores sem precisar disfarçar o cansaço e todos os meus dissabores.
Quanto circuito de palavras, quanta circunlocução para dizer que chegou o dia em que descobri que posso ser feliz sem um grande amor, que o amor é parte integrante da vida, mas apenas uma parte.
Chegou o dia em que percebi enfim, que aquela história de ser tão indispensável quanto o ar que se respira serve somente para os grandes compêndios literários.
Hoje me conscientizo que vida e morte são fatores biológicos, que a vida sempre marca um encontro, porém a morte não! Que coragem e covardia têm similaridade, mas que a minha história nada tem de extraordinário, porque todos têm muitas histórias para contar, mas que aos poucos vamos vivendo, e fenecendo para qualquer dia desses chegarmos ao fim.
(Fiz esse desabafo ao completar 50 anos).